Violência obstétrica, direito e doulagem

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Se eu pudesse, nesse momento, me definir, seria uma mulher em busca de trabalhar com algo que me motive todo dia ao acordar, e para ser sincera, o Direito sempre me encantou na teoria, mas a prática nunca fluiu muito na minha vida! E não, não me enchia aos olhos! Era sempre maçante… nada animador!

Até que me deparei pela primeira vez com o termo violência obstétrica, mais especificamente com o caso da Adelir Carmen Lemos de Góes!

Adelir logo após a cesariana a que foi obrigada a passar!

Como a Justiça poderia obrigar uma mulher gestante a passar por um cirurgia sem seu consentimento!? Como 8 polícias armados poderiam ir até a casa dela e tira-la à força? Qual crime ela cometeria? Qual direito realmente a Justiça tentava proteger ali? Aquela liminar fundava-se em uma expectativa de direito do feto, mas e o direito real da mulher? Qual parte dos direitos humanos eu não havia entendido até então? Nada ali era verdadeiramente jurídico…

Sim, era violência contra a mulher, violência obstétrica, institucionalizada, e a partir daqui não tive como conter minhas pesquisas pra entender melhor o tema!

Entendi, que “a prevalência de violência obstétrica no Brasil é alta: ¼ das mulheres relata terem sofrido maus-tratos durante o atendimento ao parto, além de excesso de intervenções desnecessárias (como venóclise, ocitocina de rotina e episiotomia) e privação de uma assistência baseada em boas práticas, tais como parto em posição vertical, possibilidade de se alimentar e de se movimentar durante o trabalho de parto e presença de um acompanhante. Destaca-se o excesso crônico de cesarianas (55,6% do total de nascimentos) no Brasil, mais prevalente no setor privado (85%) do que no público (40%).”

E logo que tirei minha OAB, engravidei!  5 meses depois de me deparar com esse tipo de violência! Já mais informada sobre a realidade da gestação e parto no Brasil, vi que pelo plano de saúde não rolaria um parto normal e depois de muito pesquisar optei por um parto domiciliar planejado, de forma a fugir da violência obstétrica! 

Minha gestação foi muito tranquila, meu parto foi um verdadeiro desafio!

Foram muitas horas de trabalho de parto que me levaram a crer em mim mesmo e na minha potência, e desde então desejo que toda mulher passe por seu desafio, seja ele vaginal ou cirúrgico, que seja seu Parto e que nele cada mulher possa ser respeitada e o vivencie como deve ser, um dos momentos mais especiais da sua vida, como é a chegada de um filho.

Eu e o Renan algumas horas após o parto domiciliar planejado!

E para ajudar nesse desejo profundo, me tornei doula em 2015, oito meses após meu parto e o nascimento do Renan! E venho cumprindo essa missão e transformando- a em realidade! Trazendo para cada mulher que atravessa a minha vida, uma parcela de melhoria na experiência com seus partos e o nascimento de seus filhos.

E ainda, afim de motivar mais mulher a passarem pela experiência de parto respeitosa, entendendo que parto humanizado acima de tudo é um modelo de atendimento voltado para a tríade de respeito a fisiologia, aos desejos e singularidade de cada mulher e a Medicina baseada em evidências científicas. Criamos eu e mais duas sócias, o Primeiros Laços, Espaço Materno em Poços de Caldas, MG – com uma equipe multidisciplinar de profissionais voltados para o antedimento materno ! Para conhecer-nos acesse nossas redes sociais clicando no link abaixo:

Intagran: @primeiroslacos

Facebook: @espacoprimeiroslacos

E enfim, posso dizer que acordo motivada e feliz! Mesmo às 4 horas da matina! Pois sei, que mesmo em um cenário de violência obstétrica, como doula posso ajudar as mulheres com informações que empoderam e com acolhimento que respeita cada uma de suas decisões!

Doula Ana Paula Lanza – Estarei lá por você!

 

Referências Bibliográficas:

Justiça do RS manda grávida fazer cesariana contra sua vontade [Internet]. São Paulo: Folha de São Paulo; Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434570-justica-do-rs-manda-gravida-fazer-cesariana-contra-sua-vontade.shtml

Entrevista com Adelir Carmen Lemos de Góes (que foi obrigada a uma cesariana em Torres-RS) – por Anelize Moreira, Rede Brasil Atual;  Disponível em: https://www.cientistaqueviroumae.com.br/blog/textos/entrevista-com-adelir-carmen-lemos-de-goes-que-foi-obrigada-a-uma-cesariana-em-torres-rs-por-anelize-moreira-rede-brasil-atual

Violência obstétrica e prevenção quaternária: o que é e o que fazer; Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/1013

COLACIOPPO, Priscila Maria et al. Parto domiciliar planejado: resultados maternos e neonatais. Revista de Enfermagem Referência, n. 2, p. 81-90, 2010.

GILLILAND, Amy L. Além de dar as mãos: o papel moderno da doula profissional. Revista de Enfermagem Obstétrica, Ginecológica e Neonatal , v. 31, n. 6, p. 762-769, 2002.

MALHEIROS, Paolla Amorim et al . Parto e nascimento: saberes e práticas humanizadas. Texto contexto – enferm.,  Florianópolis ,  v. 21, n. 2, p. 329-337,  June  2012 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072012000200010&lng=en&nrm=iso>. access on  08  Apr.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072012000200010.

 

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