Duas mãos e um coração: A história de como me tornei doula

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Olá, meu nome é Bianca, mas gosto que me chamem pelo meu apelido: Biba (aquela do Castelo Rá Tim Bum, lembram?). Tenho 36 anos e sou doula, bióloga de formação e trabalho com divulgação científica, pois acredito que o conhecimento deve estar disponível para todas as pessoas. Daí pra doulagem foi um salto, mas vamos voltar um pouco na minha história.

Recebendo o diploma das mãos das minhas mestras: Anna Gallafrio, Flávia Penido e Débora Diniz, por Pur Amour Fotografia

Como tudo começou

Bem, eu nasci de um parto normal. Até onde sei não houveram violências obstétricas, porque foi um parto muito rápido, o que me rendeu o apelido de Formiga Atômica (pequena, rápida e com um capacete de vérnix). Minha mãe sempre relatou a gestação e o parto com muita tranquilidade e naturalidade. E foi isso que levei pra vida. Recordo de passar a vida toda advogando pelo parto normal e o retorno era sempre dado com muito estranhamento e caras feias e eu ficava sem entender nada. Na minha cabeça não fazia o menor sentido as pessoas acharem que parto normal era horrível, afinal de contas somos mamíferas e nosso corpo foi feito pra isso.

Agora avança a fita para 2003, eu adulta na faculdade de biologia: a vida chegou pra mim e disse “Achou que eu era fácil? Achou errado otária!!”. Foi então que tive meus primeiros contatos com o feminismo e com as evidências científicas como respaldo para todo o conhecimento que recebia. Estava cada vez mais claro que não tinha nada de errado com partos normais, nem com as mulheres e seus corpos, mas com o sistema médico e essa mania horrível de tutelar nossas vidas.

“É spin-off que chama, Rogerinho!”

Eu trabalhava com cogumelos! :O

Agora avança de novo: em 2015 minha melhor amiga-irmã, Rachel, engravidou. Alguns anos antes ela havia me dito que quando engravidasse eu seria sua doula e eu dei risada, porque eu queria ser cientista! E é por isso que eu estava decidida a ir embora para o Canadá quando ela me deu a notícia. (EUREKA! – foi o barulho da chavinha virando dentro de mim). Uma transformação muito profunda teve início e aos poucos minha jornada tomou o rumo da assistência ao parto. Essa nova família que se formava foi e continua sendo o meu porto seguro.

Fiquei por aqui mesmo e embora ainda quisesse atuar como bióloga, a semente da doulagem já havia brotado e mostrava suas primeiras folhas recém saídas da terra. Acompanhei de perto essa amiga, e foi no seu puerpério que a vontade de atuar como doula apareceu pela primeira vez. Sem perceber, fui sua doula de pós-parto, ajudava no que precisasse e levava informações, tanto da minha formação como bióloga, como da minha vivência e leituras que fazia por curiosidade. Até que um dia essa amiga agradeceu pela doulagem, pela amizade e disse “Biba, você tem tudo pra ser doula. Tem o conhecimento técnico e sabe ajudar e cuidar das pessoas”. Pronto, a planta tinha crescido mais um tanto e começava a se estabelecer.

Fabrício, Rachel e eu no chá de bebê da Isabel. Arquivo pessoal

Siadoula-Siaparto

Pra ter certeza que era isso mesmo que eu deveria fazer, me inscrevi no I Siadoula, que aconteceu dentro do Siaparto em setembro de 2017. Que experiência inesquecível! Assisti palestras de muitas mulheres que são a história viva da humanização do parto no Brasil. Pude ver Naoli Vinaver e Gail Tully de perto, ouvir o Braulio Zorzella e o Alexandre Coimbra Amaral falarem com tanto amor e carinho sobre as doulas. O aprendizado mais importante pra mim foi a necessidade que nós mulheres temos de nos reconectar ao nosso sagrado, à nossa ancestralidade e acreditar no potencial que existe em cada uma de nós. Saí de lá decidida a fazer o curso de doula o mais rápido possível. E foi assim que conheci a Sam e a Casa da Doula por intermédio de uma amiga em comum, e passei a acompanhar seu trabalho.

Meu crachá do Siadoula e Naoli palestrando, com Frida doula ao fundo <3

Acolhimento

Em março de 2018 fiz o curso na Casamar em São José dos Campos. Entrei partida, saí inteira. Os dias de curso foram muito intensos e transformadores para todas que participaram, alunas e mestras. Me reconheci e me descobri em cada mulher, em cada vivência, em cada olhar trocado. Fui acolhida, cuidada, amada e curada. Renasci. Fiz as pazes com minha ancestralidade, com minhas vivências, com meu útero e com meu poder feminino. Foi como se tudo que eu vivi finalmente fizesse sentido naquele momento. Com escuta ativa, duas mãos e um coração, é possível transformar o mundo.

Nascer de novo, por Pur Amour Fotografia

Desde então, atuei apenas no pré e no pós-parto, mas sigo ansiosa para acompanhar meu primeiro parto. Porque doula não faz parto, faz parte.

Você sabia que existe um Projeto de Lei para a regulamentação da profissão de doula? Saiba mais aqui PL 8363/17

Referências bibliográficas:

Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de parto: Experiência do Hospital Sofia Feldman https://www.researchgate.net/profile/Marisa_Bastos2/publication/262752114_Doulas_supporting_womem_during_labor_the_experience_of_Sofia_Feldman_Hospital/links/0deec528179d09f2ad000000.pdf

Evidências qualitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto e no parto https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012001000026

História oral: a experiência das doulas no cuidado à mulher https://www.redalyc.org/html/3070/307023863008/

O papel da doula na assistência à parturiente http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/380

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3 respostas para “Duas mãos e um coração: A história de como me tornei doula”

  1. Bianca, que texto lindo! Muito obrigada pela tua ajuda e toques. Mesmo de longe, me sinto acolhida! Você é e será uma doula maravilhosa, e sorte de quem ter um parto com você ao lado!

    Beijos!!!

    1. Obrigada pelas palavras Aline. Fico muito feliz em saber que te ajudo. Estou à disposição sempre que precisar. Beijo!

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