A doulagem que floriu meu caminhar

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Descobri que estava grávida aos 22 anos, foi um susto, pois eu e meu marido, Vinicius, tínhamos planos bem definidos, eu no último ano da faculdade e ele cursando também. Um filho sempre nasce para nos mostrar algo que antes não enxergávamos e gestar, parir, amamentar, me fez enxergar outro mundo.

Na época, graduava Gestão de Políticas Públicas na USP leste, onde também tem o curso de Obstetrícia, e conhecia um pouco sobre o movimento e a luta pelo parto humanizado, sabia também das violências obstétricas e eu como mulher negra, sabia que estava nas estatísticas.

Encontrei-me com meu amigo, que na época cursava obstetrícia (Hoje formado) e contei a ele sobre a gravidez, logo ele me acolheu, e a partir daí ele foi minha doula e fui amadurecendo a ideia do parto domiciliar planejado. E parir em casa foi uma das escolhas mais certeiras da minha vida.

Nós, mulheres quando engravidamos, passamos por transformações físicas, psicológicas e sociais, é uma avalanche de mudanças. E assim foi a minha gestação, foi renascimento, descobertas e mudanças. Tive uma gestação muito tranquila e saudável, me sentia ótima, sentia a vida pulsando no meu corpo e na minha alma.

Como é importante a mulher ter uma Doula.

Fui à consulta de 39 semanas e para minha surpresa, quando entrei na sala, tinha dois residentes, além da obstetra, e ela queria fazer exame de toque, quando recusei ela mostrou sua insatisfação, tentou me pressionar para fazer, afirmando que eu poderia estar dilatando porque estava com fortes pródromos a duas semanas. Simplesmente virei para ela disse que não iria fazer. Ela simplesmente me entregou uma carta para internar com 40 semanas para induzir, pois segundo ela, eu era muito magra e não ia aguentar um parto natural.

Meu mundo desabou nesse momento, chorei o que precisava colocar para fora e contei para a equipe que estava me acompanhando, e foi aí que se confirmou ainda mais o que eu já sabia: Como é importante a mulher ter uma Doula, pois se eu não tivesse me informado, tivesse um acompanhamento de qualidade, eu iria internar com 40 semanas para induzir e cairia em uma cesariana desnecessária.

Nesse mesmo dia, fiz uma reza, pedi para que tudo fluísse bem e sonhei que daria tudo certo no meu parto. Depois de dois dias entrei em trabalho de parto e fiquei radiante de felicidade, pois o momento de conhecer meu filho se aproximava. Vicente nasceu no seu tempo, com 39 semanas e 3 dias, em um parto em casa, cercado pela família, nasceu na banheira às 04h10 da manhã do dia 19 de novembro de 2015. Foi intenso, dezesseis horas em trabalho de parto, e foi delicioso, parir com prazer, não tenho nenhuma recordação negativa, me lembro de ser ouvida, amparada, do meu companheiro está sempre junto a nós e sinto saudades desse dia. Foi amor a primeira vista, nasceu sendo amparo pelo pai, que logo me entregou e ficamos nos olhando. Não existe momento mais sublime. Eu conheci uma força que não sabia que existia em mim, me conheci na minha melhor versão, a versão mãe.

Doula? Eu?

Em janeiro de 2017 me inscrevi para o curso de Doula, meu marido fez junto comigo, até para dividirmos os cuidados com o Vicente durante as aulas. Não tinha a intenção de ser Doula, minha intenção de fazer o curso é para saber mais sobre parto e conhecer outras mulheres que também tinham parido trocar informações, conhecer outras realidades. E assim fomos e nos formamos em Julho do mesmo ano.

Quando terminei o curso de doulas, eu estava finalizando a minha graduação, terminando disciplinas e meu tcc. Eu queria doular, estava plantando isso no meu coração, mas queria me concentrar na finalização desse ciclo, que era muito importante.

Uma amiga doula que se formou comigo passou meu contato para uma gestante que morava próxima de mim, eu fui sem muitas pretensões, e comecei a acompanhar sua gestação, foi uma experiência muito bacana esse parto, esse bebê, essa mulher que tive o prazer de acompanhar, e nasceu na véspera de natal, foi um presente. Após esse acompanhamento, surgiu outro, e outro e hoje sou doula, com muito orgulho e luta.

Eu não nasci para ser mãe.

Me torno mãe diariamente, desde a descoberta do positivo, e a cada passo que damos juntos, é um aprendizado mútuo. Por isso afirmo que não nasci para ser mãe, a cada dia vou melhorando e sendo a educadora que o Vicente merece. E ele veio para nossas vidas para mostrar verdades, para curar, para ser amor.

 

Após passar por todo esse processo, vou renascendo em mim, e ser Doula, faz parte desse renascer intenso e constante, para mim doular é revolucionar as estruturas sociais, onde todas as mulheres merecem uma assistência de qualidade. A humanização é para todos, o cuidar e ser cuidada é para todos, e eu como doula, mãe, mulher, me lembro que para cuidar do próximo eu preciso me cuidar primeiro. A doulagem floriu meu caminhar.

Referências Bibliográficas.

Alma Pretas.

https://www.almapreta.com/editorias/realidade/segundo-ministerio-da-saude-62-8-das-mulheres-mortas-durante-o-parto-sao-negras 

Vivenciando repercussões e transformações de uma gestação: perspectivas de gestantes. 

https://www.redalyc.org/pdf/3704/370441805012.pdf

Toques Vaginais 

Mitos sobre o parto: Toques vaginais repetidos e de rotina?

Evidencias quantitativas sobre o acompanhamento por doulas no trabalho de parto. 

http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n10/26.pdf

Estudando gravidez prolongada. 

http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/estudando-gravidez-prolongada.html?q=indu%C3%A7%C3%A3o+41+semanas

Indicações reais e fictícias de cesariana. 

http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html

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