Parto domiciliar – Eu posso ter um?

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Sempre que conto as minhas histórias de parto e não parto nos grupos de gestantes vem o questionamento sobre a escolha do meu parto domiciliar. Muitas pessoas nem sabem dessa possibilidade de escolha do local do parto e muitas dúvidas acabam surgindo. E uma dessas duvidas é: Eu posso ter um parto domiciliar?

Não há lei que proíba o parto domiciliar. As mulheres têm pleno direito a escolha do local onde acontecerá o seu parto.

Porém existem alguns critérios a serem seguidos para que uma gestante possa escolher essa opção de local de parto. E é sobre esses critérios que vamos falar aqui.

Parto domiciliar Foto: http://www.marianacorsi.com.br/

A industrialização do parto

Para entender melhor o porquê mulheres não têm mais seus filhos em casa precisamos falar sobre a industrialização do parto.

O parto hospitalar se consolidou há pouco mais de 50 anos. No Brasil, as mulheres passaram a ter duas alternativas: um parto vaginal cheio de intervenções desnecessárias ­ou a cesárea, que desde 2009 predomina como a forma de nascer dos brasileiros.

A pergunta: Como você gostaria de ter vindo ao mundo? Por muitos e muitos anos não fez qualquer sentido. Durante milênios, bebês nasceram em suas próprias casas em um ritual restrito às mulheres, e auxiliado por parteiras. Foi apenas a partir do século XVIII, que mulheres da alta sociedade inglesa passaram a ser atendidas por médicos. Seguindo o pensamento iluminista: o corpo é uma máquina (defeituosa) e o médico, o seu mecânico.

Imagem 1 –Parto em uma ilustração francesa do século XVIII

Imagem 2- Parto Litotomia   https://wellroundedmama.blogspot.com/2015/03/historical-and-traditional-birthing.html

           

 

 

 

Imagem 3 – Cesariana: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cesariana

Como resgate de toda a sabedoria e os mistérios dos sentidos de parir e nascer, surgem os movimentos pela humanização da assistência ao parto. Reivindicando a qualidade na assistência e o direito ao parto respeitoso. Políticas públicas começam a existir para promover o parto normal e a implementação da assistência baseada no protagonismo e autonomia da mulher, nos direitos humanos, nas evidências científicas, na segurança.

O Parto Domiciliar pelo mundo

A escolha do local de parto é um Direito Reprodutivo Básico, respeito à autonomia e ao protagonismo feminino.

No Brasil a porcentagem de partos domiciliares ainda é muito pequena em comparação com países com bons indicadores obstétricos. Apenas 2% de todos os partos são domiciliares, e esse número só é possível na sua maior parte por causa das regiões Norte e Nordeste, onde os partos são assistidos por parteiras tradicionais, sendo que no restante do Brasil a menor parte se caracteriza por partos domiciliares planejados e assistidos por Enfermeira Obstétrica ou Obstetriz.

%País
0,2%Japão
0,9%Austrália
1%EUA
2,5%Reino Unido
3,2%Nova Zelândia
30%Holanda

Tabela 1: Parto domiciliar no mundo

Não temos estudos no Brasil sobre a segurança do Parto Domiciliar, o que temos de informações são de estudos feitos em outros países. Esses estudos mostram que o risco de complicações para a mãe e para o bebê é similar tanto no parto domiciliar quanto no hospitalar, desde que haja uma equipe capacitada no domicilio e um pré natal de qualidade. Com diferença que a proporção de mulheres satisfeitas com a experiência do parto é maior em mulheres que pariram em casa.

Critérios de Elegibilidade – Quem pode ter um Parto Domiciliar?

Foto de parto domiciliar https://www.facebook.com/kellysteinfotografia/

A escolha pelo parto domiciliar é uma decisão da gestante e sua família, bem como a escolha do(s) profissional(is) que fará(ão) o acompanhamento. Por isso a escolha do local deve sempre ser embasada onde a gestante se sente mais segura para ter o seu bebê.

Abaixo vou listar e detalhar esses critérios:

  • Gestação de baixo-risco

Todos os exames realizados durante o pré natal precisam estar dentro do normal para a gestação. Medidas de pressão arterial normais; crescimento uterino do bebê normal; não pode ter diabetes e precisa seguir a gestação até pelo menos 37 semanas, caso contrário o bebê é considerado prematuro.

  • Concordância do parceiro, se tiver parceiro

Todos os envolvidos no ambiente do parto precisam estar na mesma sintonia;

  • Plano B (transferência hospitalar, se necessário)

Todo parto que é planejado para ser domiciliar pode iniciar como domiciliar, mas a qualquer momento, se necessário, ele pode eventualmente se transformar em um parto hospitalar. Por isso a importância de pensar e planejar o plano B com o mesmo carinho que se planeja o plano A;

  • Condições de transferência planejada e viável em tempo hábil (30min)

Ter uma maternidade de referência com infraestrutura a no máximo 30 minutos de distância da residência;

  • Termo de consentimento pós-informação;

Que a gestante e parceiro tenha entendido os riscos e benefícios do Parto Domiciliar, buscado estudar e obter informações para o seu empoderamento;

  • Vínculo entre equipe profissional e família desde o pré-natal

A gestante precisa se entregar durante o trabalho de parto, para que isso ocorra ela precisa confiar na equipe que a esta acompanhando.

  • Co-responsabilidade

Parto domiciliar é para mulheres que assumem LIVRE E CONSCIENTEMENTE SUA ESCOLHA, estão certas de que esta é a MELHOR opção e se co-responsabiliza por TODAS as consequências.

E você se enquadra nesses critérios? Já pensou na possibilidade de parir seu filho em casa? Busque informação para montar a sua equipe e ter o parto mais respeitoso para você!

Referências bibliográficas:

 

 

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