O vínculo da vida: O bebê deve ficar o tempo todo com a mãe… inclusive para avaliação!

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Você já viu aqueles filmes ou novelas onde, logo após o nascimento, o bebê é levado para longe da mãe, geralmente outra sala, feito todos os procedimentos técnicos que existem e, logo depois, ele é entregue para a mãe todo limpo, lavado, as vezes já vestido, embrulhado numa manta ou cueiro e muitas vezes, em silêncio?

Pois é… isso tem muito na ficção, mas infelizmente, também é extremamente comum na vida real. Infelizmente também, o que fazem na arte é levado pra vida e vice versa e, o pior ainda, não tem nenhum pinguinho de embasamento científico. Com essa “doutrinação falsa”, o que vemos é uma série de eventos distorcidos e sem evidências que podem prejudicar o binômio mãe/bebê. Vamos entender juntas como isso pode prejudicar o seu bebê?

Os primeiros momentos do bebê e da mãe são imprescindíveis. Foto: Parto Lívia_Lucca – Por Fabiana Beracochea – Capturando segundos de eternidade

Golden hour: o que é isso e pra que serve?

Adams Cowley foi o “cara” que pensou no termo. Ele era primeiro tenente do exército americano e reparou (e depois colocou isso num estudo) que, todo atendimento de acidentes feitos dentro da primeira hora após o trauma, tinha muito menos ocorrências de morbimortalidade, ou seja, aconteciam quase nenhuma ou absolutamente nenhuma sequela do acidente, quando o atendimento ocorria na primeira hora pós trauma. Isso determinava então o sucesso daquela operação.

Não podemos fechar nossos olhos que, mesmo sabendo que o parto é um evento incrível e fisiológico (diferentemente de um acidente com vítimas), o parto é sim um evento intenso, transformador e porque não, traumatizante. O trauma aqui não é sinônimo de coisa ruim, de sequela, mas de algo que ficará impregnado na mente e na alma daquela pessoa que acabou de chegar. e se logo nessa primeira hora ocorrerem fatos e ações que, aí sim, podem causar traumas (esfregar, aspirar, pingar colírio que arde os olhos, etc, etc, etc), podem deixar marcas permanentes no inconsciente dessa pessoa e determinar um comportamento de insegurança, medo ou agressividade para a vida adulta. Já pensou nisso?

Claro que todo o meio de vivência dessa pessoa também é determinante. Mas nosso foco aqui hoje é apenas os primeiros momentos após o nascimento.

Acolhimento e respeito: A primeira impressão é a que fica <3 ! Foto: Chegada de Ravenna – Por Fabiana Beracochea – Capturando Segundos de eternidade

Procedimentos na primeira hora: não é preciso levar pra longe…

No Brasil, ainda é muito comum as maternidades terem os mesmos protocolos de 15 ou 30 anos atrás. Porém, estudos atuais indicam que é benéfico pro bebê se a gente esperar pelo menos uma hora para faze-los (medir, pesar, dar vacina, avaliar, etc). Testes como apgar que devem ser feitos imediatamente após o nascimento, podem e devem ser feitos no colo da mãe (salvo excessões de situações individualizadas, como mães em coma ou em morte cerebral declarada por exemplo).

Nada é mais importante para o bebê do que permanecer com a mãe, mesmo durante os procedimentos. O bebê no colo da mãe ainda tem o benefício de que, se for identificado alguma intervenção ou procedimento necessário naquele momento, o bebê pode ir para o peito da mãe e ser devidamente amamentado, o que auxilia no alivio da dor e desconforto de procedimentos dolorosos, devido à produção de endorfinas.

Colo: Vínculo e confiança

Seu bebê acabou de chegar no mundo. Não conhece nada além do som do seu coração, da sua voz e do calor do seu corpo. Ele estava todo encolhido num lugar escuro e quentinho, protegido pelas paredes do útero. E de repente, está num lugar muito claro, com temperatura diferente do que esteve acostumado em 9 meses, com sons e cheiros estranhos e não tem mais as paredes do útero para se firmar! Está um verdadeiro caos e tudo que ele conhecia deixou de existir em segundos!! E de repente, seu pulmão é obrigado a se abrir e receber o ar pela primeira vez… e isso exige um baita esforço! Queima, arde, dói… e esse bebê continua sem entender o que está acontecendo! E chora… de medo, de desespero, de dor, de frio, de pavor… de necessidade de puxar o ar… “Cadê minha proteção? Onde está meu calorzinho? Cadê aquele som ritmado que me acalmava? Acabou tudo? Onde estou?? Alguém me acode, por favor…”

E se ao invés disso, assim que esse bebê perde sua referência de segurança (o útero materno), ele é colocado imediatamente no colo da mãe: Tum tum, tum tum, tum tum, tum tum… … …! Um calor conhecido começa a aquecer seu corpo também! “Um som!… Uma voz… Eu conheço esse som… esse ritmo de fala, essa tonalidade… E esse quentinho… Eu sei quem é!! Eu sei onde eu estou!! Mas cadê Aquele apertadinho?… Ahhh… agora sim! Esses braços! Está quentinho, eu conheço esses sons, sei que aqui estou protegido!… O que é que está tentando entrar pelo meu nariz?… Ar? Affe, arde… vou bem devagar… essa coisa no meu umbigo ainda está trazendo oxigênio pra mim né? Beleza… vou tentar bem devagarzinho. Assim está melhor!! Dói… mas dá pra aguentar! Esses sons são tão bons de ouvir… Aqui estou bem, com certeza!! Ninguém vai me fazer mal!! Acho que vou até puxar uma palhinha… zzz”

No colo materno, o bebê reencontra o aconchego, proteção e tranquilidade de um ambiente conhecido. Foto: Parto Tatiana Fávaro e Francisco – Por Fabiana Beracochea – Capturando segundos de eternidade.

Viu a diferença?

Que tipo de percepção do mundo cada bebê vai ter?

Acha que isso pode ser importante para o futuro desenvolvimento da personalidade do seu bebê?

Conseguiu se colocar na pele dele(a)?

As diretrizes do Ministério da saúde dizem que, para bebês que nascem bem e com respiração regular, todo procedimento no bebê pode e deve aguardar pelo menos uma hora, pois essa primeira hora é de extrema importância para a melhor adaptação do bebê. E se no colo o bebê está excelente, está protegido, calmo, adaptado e em paz, não há necessidade de lhe causar incômodos, o arrancando dos braços da mãe e o levando para longe de sua fonte de segurança, não acha? Os procedimentos são simples e podem ser feitos sem perda de qualidade nos braços da mãe!! Isso com certeza o deixará mais seguro, mais tranquilo e com certeza, mãe e bebê agradecem <3

E você? Como gostaria de passar o seu pós parto imediato?

Nada melhor que o colinho da mamãe. Foto: Chegada de Ravenna – Por Fabiana Beracochea – Capturando segundos de eternidade

Referências:

http://www.scielo.br/pdf/reben/v63n6/20.pdf

https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Rotina/noticia/2014/03/saiba-tudo-o-que-acontece-nos-primeiros-60-minutos-de-vida-do-seu-bebe.html

http://www.aleitamento.com/humanizacao-parto/conteudo.asp?cod=1921

http://www.perc.ufc.br/a-importancia-da-hora-de-ouro/

http://anais.atualizacongressos.com.br/wp-content/uploads/2014/11/HORA-DE-OURO-QUANDO-O-TEMPO-FAZ-A-DIFERENÇA.pdf

https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/02/28/noticias-saude,192856/qual-a-necessidade-de-separar-bebe-e-mae-logo-apos-o-parto-veja-video.shtml

Mãe e filho devem ficar em alojamento conjunto após o parto

https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Rotina/noticia/2014/03/saiba-tudo-o-que-acontece-nos-primeiros-60-minutos-de-vida-do-seu-bebe.html

https://bebemamae.com/recem-nascido/as-primeiras-horas-de-vida-do-recem-nascido

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102011000100008

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