O parto pelos olhos da Doula

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ADoula
Por Cesar Villasboas

A bolsa estourou!

22:28 do dia 18 de Maio de 2018 o meu celular tocou, a mensagem dizia: “Oi Julia! Hoje por volta de 20:00 hrs saiu mais um pouco de tampão, vim comer pizza e senti sair uma aguinha.”
Perguntei algumas coisas e resolvi ligar pra gestante, e na conversa a certeza de que a bolsa havia rompido. Era uma gestação de 36 semanas, faltando 3 dias para completar 37,resolvi organizar algumas coisas que faltavam, tomei um banho e liguei novamente. O pai atendeu e disse: “Agora saiu mais um pouco de líquido, ela foi tomar banho.”
Neste momento eu resolvi ir até a casa dela e foi ai, que pela primeira vez eu estaria atuando como Doula, sem um livro, deixando de lado a teoria pra colocar na prática. No caminho até lá, eu só falava com meu marido: “eu estudei, eu sei, mas eu tô com medo. Mas eu sei.. Eu me doei muito tempo em estudos e pesquisas.” E ele, só conseguia me incentivar, me dizia que eu era capaz, que ele acreditava em mim.

O encontro..
00:14 já do dia 19 de maio eu chego na casa deles, encontrei a gestante na cama, sem dores e muito bem. Começamos os três a conversar sobre tudo, a vida, contamos histórias engraçadas, rimos, ficamos tensos em certos momentos.. Por volta das 00:53, algumas contrações começaram a dar algum sinal, ainda sem muita dor, iam e vinham..

A chegada ao hospital

2:15 da manhã, ela se levantou e mais líquido saiu, enquanto tomava banho, mandei uma mensagem para a obstetra e ela me pediu para que fôssemos pro hospital. No hospital, encontramos a médica quem fez todos os exames, e a primeira notícia: nenhuma dilatação, ou pra ser legal, meio centímetro. A primeira contração mais forte se deu às 3:21, e ai realmente todos nós começamos a entender que as coisas começariam a andar.

Trabalho de parto
Por Julia Otero

Nem tudo é como na teoria

6:40, mais um exame de toque e a notícia que trouxe algum tipo de frustração, 1 cm apenas, as dores já eram intensas pra ela e os questionamentos vieram: “será que eu vou conseguir?” Eu respondia: “Claro que vai, você se preparou pra isso!”, mas eu, lá no meu íntimo me questionava: “Será que EU, Julia, aquela que se preparou para ajudar essa mulher, será que eu vou conseguir?” (as coisas são lindas demais na teoria, vendo aquela mulher a cada contração gritar com toda a sua força e saber que tudo aquilo estava apenas começando, também foi um baque! Eu entendi que as coisas na realidade são bem mais PUNKS do que na teoria, e sim, eu me questionei.)
Em um desses momentos iniciais, eu sai do quarto um pouco pra respirar e voltar a me concentrar, eu precisava também de confiança, era a minha primeira vez ali, lidando com o emocional daquela mãe que estava nascendo, daquele pai que estava tenso mas estava mantendo a calma e eu só precisava disso, calma, concentração porque tudo o que eu tinha aprendido estava guardado, era só colocar em prática. Voltei ao quarto com o sorriso no rosto.

Frustração 

12:45, mais um exame de toque e ali vinha outra notícia que tentava de alguma forma tirar a todos do foco: 3 CENTÍMETROS! Como assim? Na teoria, pelo que eu tinha estudado, a forma com que ela lidava com as dores, o seu semblante, o número de contrações, tudo indicava que ela tinha mais do que isso, mas não, ela estava com 3 centímetros e eu precisava jogar a teoria pra fora da minha mente e me concentrar em não deixar aquela mulher desistir. “Vamos, você consegue”, -eu dizia, e ela já chegava a conclusão de que queria desistir.

Ocitocina..

13:00, ocitocina, a partir dali a intensidade de cada contração seria mais e mais forte, eu pensava: “Meu Deus, eu preciso passar toda a minha força pra essa mulher, eu estou com ela, ela quer demais esse parto e eu sei disso, me ajude a manter minha calma e ajuda-la!”. A cada contração, as dores que já eram intensas, ficaram piores, no chuveiro, eu jogava água em suas costas, minha roupa já estava completamente encharcada, mas eu não deixava nada me tirar o foco. Chegou um momento que ela encostava sua cabeça sobre meu corpo e cochilava entre as contrações, e eu também, em pé eu cochilava junto com ela, quando ela se mexia eu já acordava e falava para ela se concentrar..

Fase de transição
13:45, fase de transição, estávamos eu e a obstetra no banheiro e chegou o momento em que ela gritava e implorava para que a deixássemos desistir. Gritava por anestesia, para tirar ela daquele lugar, pedia por cesárea. Ao invés daqueles gritos desesperados me deixarem nervosa, uma tranquilidade intensa tomou conta de mim e eu conversava com ela, dizia que tudo estava terminando e quanto mais eu falava, mais ela queria desistir.

A agua e o parto
Por Julia Otero

O nascimento

14:00, a obstetra saiu do quarto para pedir para o anestesista se preparar para subirmos para o centro cirúrgico, ela aceitou em tentar continuar com a anestesia. Nesse momento ela estava deitada na cama e eu correndo troquei a calça molhada do chuveiro por outra, quando ia pegar minha blusa, mais uma contração, cheguei perto dela e ela me agarrou me dizendo: “Eu não aguento mais, por favor me ajuda! Eu to cansada!”, eu só pedia pra ela ao invés de prender a força para empurrar, que ela empurrasse e assim ela fez, foram 3 contrações ali, sozinhas, eu e ela, quando vi alguma coisa parecia estar progredindo, abri a porta e gritei: “Acho que vai nascer!!!”. Chegou todo mundo correndo, ao invés da maca que estava trazendo para leva-la para o centro cirúrgico, a obstetra pediu para aquecerem o berço, fez o toque e os 8 pra 9 centímetros me deram forças pra eu pedir para que ela não desistisse.
“Vamos, você consegue” eu e o marido dizíamos pra ela, a cada contração ela segurava a nossa mão e fazia força, quando aquele momento passava ela voltava a querer desistir, até que a obstetra disse: “Estou sentindo o seu bebê, ele já está aqui!”. Ali, parece que ela resgatou uma força divina, desistiu de anestesia, cesárea e resolveu continuar. Eu na minha curiosidade a cada momento que a médica dizia: “Eu tô vendo o cucuruto dele, quer ver? Quer ver pai?”, como ninguém queria, eu fui lá e olhei, era ele, o bebê tava ali, cabeludo que só.
A cada contração, mais um coro meu e do pai: “Vamos, força, ele tá chegando”. Eu fiquei ali, de olho em tudo que acontecia, vi sua cabecinha sair e logo o corpinho, eram 14:25, a emoção tomou conta, eu que ali estava completando mais de 30 horas sem dormir, só sabia chorar. O bebê logo foi para o colo da mãe, o pai chorava emocionado, olhei a minha volta e vi aquele quarto cheio de médicos e enfermeiros e a emoção tomou conta de todos.

O nascimento da família e da doula

Ali nascia uma família, nascia uma mãe, um pai e um filho, porém naquele momento tão íntimo daquela família, também nascia uma doula.

Nascimento
Por Julia Otero

Durante todas as 13 horas de trabalho de parto, mais as horas em que eu já estava acordada eu completei aproximadamente 40 horas acordada até descansar, superei todos os limites do meu corpo e mente, mas tudo isso só me deu a certeza de que eu escolhi a profissão certa.doula

O agradecimento
Ao meu marido, eu agradeço por me incentivar e acreditar nesse meu sonho. Aos meus professores, obrigada pelos ensinamentos, a teoria é necessária para nos guiar neste momento tão lindo mas ao mesmo tempo tenso. A médica e toda a equipe do hospital em que momento algum desrespeitou meu trabalho, deixando com que as coisas corressem da forma mais humana possível. A essa família linda de amigos, eu tenho muito que agradecer a confiança de me deixar participar deste momento único. Obrigada, sem vocês nada disso seria possível!

Vicente
Por Manu Vasconcellos

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2 respostas para “O parto pelos olhos da Doula”

  1. Aaaah minha Doula linda❤Que Deus ilumine seu caminho… Uma profissão tão nobre,de estar o tempo todo do nosso lado nos ajudando e apoiando. Nos incentivar e nos fazer acreditar que somos SIM,capazes de gestar e parir.

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