Eu não sabia, mas sempre viveu uma Doula em mim

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Nasci Doula em abril de 2016. Antes, formada em administração e trabalhei por anos na área administrativa. Casei em 2013 e sempre pensei em ser mãe, engravidei do Heitor e não podia imaginar a reviravolta que minha vida daria e sobre ela que vou contar. Agosto de 2015, descobri que estava gestando, que sensação louca, uma mistura de medo e alegria, parece “maluquice”, mas antes de ter duas faixas no teste eu já sabia que seriam duas.

Eu, gestando o pequeno Heitor. Crédito de imagem: acervo pessoal.

E a primeira pergunta que veio na minha cabeça no mesmo dia, e o parto? Sempre desejei ter um convênio médico para escolher a cesárea como a via de nascimento, mas agora que estava próximo era diferente, hoje esse desejo me faz lembrar uma frase do Ginecologista Bráulio Zorzella: “Quando a mulher pede a cesariana ela esta pedindo ajuda!!!”. Não sei exatamente a que momento ele se refere, mas essas palavras se encaixaram perfeitamente para o meu sentimento.

Depois de meses pesquisando sobre as vias de nascimento concluo que o parto normal é o mais seguro, isso me doeu de certa forma, por mais que eu desejasse fugir da dor e do medo eu estava agora consciente qual via de parto era a mais segura, sem perceber eu não parava mais de pesquisar e ler sobre parto, intervenções e sistema obstétrico do Brasil. Em quase todas as pesquisas eu “caía” em uma matéria ou texto do movimento do parto humanizado, e então, ler relatos de parto virou hábito diário, eu dormia e acordava lendo e logo depois eu assisti “O Renascimento do parto” indicado por uma amiga, com todo o universo me apontando o que escolher e fazer, ainda me sentia com medo, mas agora com respostas respaldadas em evidências científicas.

Chegando no terceiro trimestre. Crédito de imagem: acervo pessoal.

Sigo em busca de um médico que permitisse ao menos escolher a via de nascimento do Heitor, e todos tem a mesma fala: “SE você estiver bem, você poderá ter um parto normal”. Mas no fundo, eu não queria um medico que me permitisse escolher sobre o parto, afinal eu já tinha a resposta sobre isso, eu queria ser acolhida nessa escolha e sentir o mínimo de confiança. Passei por “trocentos” médicos e percebo que estou no terceiro trimestre de gestação, o último médico que passei foi até que bacana, ele ao menos foi sincero quando questionei alguns pontos:

– Dr. Você induziria meu parto se necessário?
– Não, acho desnecessário esse sofrimento. Induzir leva muito tempo e você só vai sofrer mais.

– Quanto tempo o Dr. Espera por um parto normal?

– 6 horas.

 

Pensei nos relatos e já tenho a resposta, pois na média a maioria das mulheres precisa de mais horas para parir, pincipalmente na primeira gestação. Esqueço médico do plano e procuro médicos humanizados, conheço então, Luciana Motoki, e agora começo a entender e sentir pela primeira vez, eu, sendo a protagonista e fazendo as minhas escolhas. Segui com o pré-natal e agora eu me sentia segura para descansar e esperar Heitor chegar.

Nasci Doula em abril de 2016

Aguardando as contrações e batendo um papo com meu marido, Erê. Crédito de imagem: acervo pessoal.

Quase 41 semanas de gestação. Estou internada desde terça-feira do dia 19 para induzir o parto por indicação médica, sinto medo pra caramba, os de sempre: de não dar certo, de morrer, de sofrer, de não aguentar a “dor”, de não entrar em trabalho de parto, enfim, todos medos possíveis eu carregava dentro de mim. Mas eu tinha uma certeza, eu sabia que tinha escolhido o melhor para nós (eu e Heitor) e que estava sendo bem assistida.

Entro no inicio do trabalho de parto, por volta das 21h da quarta- feira, depois de mais de um dia de indução, estava cansada, mas feliz por sentir os primeiros sinais do meu corpo, estava funcionando (incrível como duvidamos). Eu sinto um pouco de cólica, mas converso entre elas e curto a presença de quem me ampara nesse momento, médica e marido, não lembro do assunto que falávamos, mas em alguns momentos permanecia o silêncio, eu me sinto amparada mas ainda com medo, sentada na bola de pilates fico a espera das tais “ondas” fortes (contrações).

Eu, sentindo as primeiras ondas. Crédito de imagem: acervo pessoal.

Não sei que horas elas chegaram, acho que por volta das 23h, sei que fecho os olhos e sinto as contrações passarem pelo meu corpo de forma intensa e dolorosa, ao mesmo tempo em que sinto dor e medo, sinto paz. E sinto o meu filho chegando entre uma contração e outra, a dor se intensifica e um piscar de olhos agora leva muito mais tempo, pois eu já não tenho mais controle de nada, muito menos do tempo. Heitor desce, e a cada descida eu confio que meu corpo esta funcionando, eu estava parindo, o medo vai embora e a vontade de tê-lo em meus braços se transfora em força, uma vontade de fazer força como se todo o poder do mundo tivesse feito parada no meu corpo, agora nada mais esta no lugar, ás 04h42 Heitor nasce e nasce a Doula.

Nascimento do Heitor. Crédito de imagem: acervo pessoal.

E nada mais permanece no mesmo lugar, pois agora sou mãe e doula, uma doula que sempre esteve aqui. Da minha caminhada pelo parto na gestação esse foi o meu melhor presente, estar de corpo e alma no que amo fazer: ver mulheres renascer.

Formação de Doulas pelo Gama. Crédito de imagem: acervo pessoal.

 

Tudo esta no seu lugar

Sentindo o coração de mulheres que nasceram para acolher. Crédito de imagem: Doula Pâmella Souza.

Nasce Alê Doula, com desejo de ver mulheres renascerem e auxilia-las na busca do seu parto, ao contrário do que muitos associam, não defendo o parto vaginal a qualquer custo. Eu acompanho gestantes na intenção que elas façam as melhores escolhas para viver a experiência do parto de forma positiva, exercendo o seu protagonismo, encarando seus medos e testando seus limites.

Eu, Alê Menezes, Doula. Crédito de imagem: acervo pessoal.

Tudo esta no seu lugar e faz sentido. Permaneço e resisto para que outras mulheres entendam a grandeza que carregam dentro de si. A maternidade nos dá uma certa solidão e a sensação que muita coisa esta fora do lugar mas em minha vida nunca experimentei algo com um potencial tão grandioso, uma vontade de lutar por um mundo melhor, não só para os nossos filhos, mas também para nos, as mães. E o medo? Ele continua aqui, de outra forma e contexto, porém, hoje tenho a consciência do tamanho da minha coragem, da minha não, da nossa.

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