A jornada da Doula

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Oi, prazer, me chamo Paula, tenho 30 anos, um filho, e um cachorro.

Sou gaúcha, casada (não no papel passado, mas me sinto assim), ativista de parto humanizado, entusiasta e defensora da ecologia e permacultura.

Atualmente, sou doula, fisioterapeuta pélvica, e moro em Itajaí.

Ufa, feito um resumo básico, te convido agora para conhecer um pouco mais da minha história.

Eu ! – Paula Pilz Fotografia

Do meu encantamento por mulheres grávidas

 

Nasci em Porto Alegre RS, cresci me mudando de cidade, de Porto Alegre  à Três Cachoeiras, uma pequena cidade no litoral do estado, lá eu tinha contato com muitas mulheres, a maioria delas minhas tias, sou a primeira da fila de primos, a primeira filha e a primeira neta, dos dois lados da família, então posso dizer que vi praticamente todas irmãs da minha mãe engravidarem, e também as esposas dos meus tios.

E sempre que chegava mais uma barriguda, eu achava o máximo, lembro de brincar de estar grávida, colocava uma almofada embaixo da blusa e saia andando por aí. Fui gestante até em peça de teatro da escola.

No ensino médio como praticamente todo adolescente estava com o dilema: O que fazer do meu futuro? (E eu não tinha ideia do que queria), então em um trabalho de sociologia (ou algo assim) a professora distribuiu profissões aleatórias para que estudássemos sobre, e apresentássemos um trabalho para os colegas.

Para mim caiu a fisioterapia, lembro que sabia vagamente do que se tratava. Na pesquisa, fiquei encantada ao saber que existiam fisioterapeutas que trabalhavam com gestantes, sabia que era com isso que eu queria fazer.

Da fisioterapia a doulagem

 

Em 2006 retornei para Porto Alegre, devidamente inscrita no curso de fisioterapia, e extremamente ansiosa para iniciar essa minha mais nova jornada.

Porém os semestres foram passando, e percebi que pouco era tratado sobre gestação, o mais próximo que havia chegado, era histologia e embriologia, que me encantou profundamente, saber que por mais desejada que seja a gravidez, o nosso corpo entende o embrião como um corpo estranho, e que luta para que ele não se desenvolva, mas apesar disso tudo, aquela pequena célula em desenvolvimento consegue se fixar na parede do útero e crescer, dobrar de tamanho e logo se tornar um pequeno feto. Uauuu que garra né? Cheguei a pensar em mudar de curso, talvez biologia? Mas a fisioterapia ainda tinha muita coisa a me ensinar. Durante a faculdade, vi muitas professoras ficando grávidas, e mesmo assim nenhuma delas falando sobre o papal da fisioterapia nesse momento da vida delas, ainda assim tentei fazer um grupo de acompanhamento de gestantes durante um estágio, e foi uma frustração só…  Desencanei das grávidas e vivi o restante do meu curso, experimentei diversas áreas, fiz muitos estágio e finalmente formei.

Arquivo pessoal

Mas dentro de mim sempre ficou aquela luzinha acesa sobre gestação e parto, nunca deixei de ler e me interessar sobre o assunto, e como tudo na vida tem seu tempo certo, senti a necessidade de fazer uma especialização, fui atrás do que eu poderia fazer, e ao pesquisar, descobri um curso de fisioterapia pélvica.

Juntamente com isso, aparecem aquelas coisas loucas da vida, não sei explicar muito bem como/onde e porque, já sabia da existência de um médico que fazia parto domiciliar em Porto Alegre (Dr. Ricardo Herbert Jones), e eventualmente eu lia, e me informava sobre ele.

Acredito ter sido através do perfil dele no facebook, que cheguei ao perfil da doula Zezé, e através de um evento criado por ela, desmarquei toda uma agenda de trabalho para assistir uma sessão com discussão sobre o filme “O Renascimento do Parto”. Me enchi de coragem (o que para mim era muito difícil estar em ambientes sem ninguém conhecido) e fui, assisti, participei das discussões e me encantei. Saí de lá com a certeza de que iria fazer parte daquilo de alguma maneira.

Inscrevi-me no curso de pós graduação de Fisioterapia Pélvica, e no mesmo mês que iniciavam as aulas, me inscrevi também no Curso de Formação de Doulas ANDO (Associação Nacional de Doulas) organizado pelo Dr Ricardo Jones, pela enfermeira obstétrica Zeza Jones e pela doula Zezé .

Formação de Doulas pela ANDO (2015) – Arquivo pessoal

O curso foi uma vivencia incrível, conhecer outras melheres com as mesmas idéias, com os mesmo objetivos, só nos faz querer ir mais longe! Também nunca tinha participado de roda de mulheres, e me impressionei com o poder de cura que temos ao estarmos juntas!! Com certeza aqueles dias ficarão guardados na memoria e no coração!!

Do RS para SC

 

2015 seria um ano de muitas mudanças, eu doula recém formada, não poderia imaginar que mudaria de cidade, tão rapidamente, e tão distante dos nossos planos, eu e meu marido estávamos querendo sair de Porto Alegre, pretendíamos morar na serra gaúcha, mas o destino nos convidou a nos aventurarmos um pouco mais, topamos o desafio e fomos morar em Blumenau SC. Muitos desafios estavam por vir, cidade nova, sem nenhum amigo ou parente por perto, colonização alemã, e cultura de povo fechado. Mas por incrível que pareca foi lá que tive a mais calorosa recepção de quem então no futuro seria a minha sócia Gabriela Muller. Simplesmente fiz a busca “Doula Blumenau” e encontrei ela no Facebook, marcamos um café no shopping e ali iniciava uma jornada de amizade e parceria.

Iniciei com palestras em cursos de gestantes, sobre mudanças corporais na gestação, muita ênfase na fisioterapia pélvica, auto conhecimento corporal… Fiz uma doulagem voluntaria, minha primeira ♥,  estava sempre ligada nos grupos de wats app de doulas, e participava dos encontros e reuniões que tinham.

Mais uma formação de Doula (afinal estudar nunca é demais) desta vez com a Nascer Amor, porém ali estava como participante, organizadora e facilitadora do evento, multifunção, o que fez eu ter mais certeza sobre o caminho que gostaria de seguir.

Palestra “Conhecendo as estruturas” Curso de formação de Doulas Nascer Amor – Arquivo Pessoal
Formação de Doulas Nascer Amor (2017) – Aquivo pessoal

Trabalhei ainda como fisioterapeuta, mas sabia que estava com os dias contados, atuei em causas políticas a favor do direito das gestantes e parturientes, também participei do projeto de doulas voluntárias no hospital público local, uma experiência única, acompanhei muitos nascimentos lindos, e pude ver muitas mulheres se tornarem guerreiras e protetoras de seus filhos, saia de cada plantão imensamente grata, por cada uma delas ter permitido, à uma desconhecida participar desse momento tão único, pessoal e intimo!!  Sim, a cada dia que passava percebia que estava num lindo caminho sem volta.

Minha vida já estava cercada de incríveis mulheres, mães e gestantes, cada uma com sua história própria e inspiradora… Foi quando percebi, que a minha vez tinha chegado!!

Movimentação Feminina pelo Parto Humanizado em Blumenau – Arquivo Pessoal

De doula a gestante

 

Engravidei, estava extasiada! Esse pequeno ser era muito esperado, desejado e planejado, foi uma gestação tranquila, tive ao meu lado uma equipe maravilhosa, a doula, que doulou a doula, meu marido me apoiou e se preparou muito, fomos muito respeitados em todas as nossas decisões inclusive em não querer saber o sexo do bebê antecipadamente e nem decidir o nome antes de conhece-lo (ok ai não foi tanto escolha, era indecisão mesmo) muito seguros planejamos um parto domiciliar.

No dia 23/12 era aniversário do meu marido, um beeeeelo de um churrasco, e muita ceva gelada pra quem tava bebendo né….  depois da comemoração com a família, resolvemos ter um momento só nos dois, afinal, seria nossa despedida de casal sem filhos, mas não imaginávamos que realmente seria a nossa ultima noite sozinhos. E tenho certeza que foi por “culpa” dessa nossa comemoração que nosso bebê resolveu que era hora de vir ao nosso encontro.

E assim, na meia noite de 24 de dezembro de 2016, iniciaram as primeiras contrações, espaçadas, me permitindo voltar a dormir entre elas, (deve ser o cansaço, imaginei) Logo elas devem passar…. mas não. Ali começava o meu trabalho de parto, numa madrugada quente e silenciosa, sem acordar ou avisar ninguém, tomei um banho quente e voltei a dormir. Dei uma olhada no wats, minha doula acordada, “Amiga, vai dormir, acho que logo vou precisar de ti hehehe”

Ainda na madrugada as contrações aumentaram, acordei o meu marido (que teve que curar a ressaca na marra) ele ficou me fazendo companhia, massagem, carinho e monitorando as contrações. Já era 5:00 quando a doula chegou GRAÇAS A DEUSA!!! O bixo ja tava pegando, bastante dor, desconforto na lombar e também estava muito enjoada, qualquer cheiro me dava ânsia, mas com os conhecimentos certos, com a aromaterapia minha doula fez o enjoo passar!

Por volta das 7:00 chega o restante da equipe, ai eu já não estava mais prestando muita atenção no que acontecia, chegava uma, saia outra, ausculta do coração do bebê, “Está tudo ótimo! Continue assim.”

Caminhei, fui pro chuveiro, pra bola, recebi massagem, fui pro chuveiro, pra cama, pro chuveiro, comi, fui pra piscina, pro chuveiro, dormi… Chegou a minha cunhada, dinda do bebê e fotografa, imperceptível, registou os momentos mais lindos e eu sequer via que ela estava lá!

Eu dormi, almocei, chorei um pouco, quis que todos sumissem, queria ficar um pouco sozinha, só eu e meu marido, e o tempo foi passando….

Paula Pilz Fotografia

Estávamos todos tão focados nesse evento que mal se notava a presença.

Equipe de parto domiciliar – Paula Pilz Fotografia

Respeito era a palavra que reinava ali, tivemos todos nossos desejos atendidos, desde a decoração da casa, até não realizar toque para saber a dilatação.

Suporte da Doula – Paula Pilz Fotografia

Então as 15:14 min, chega ao mundo e é recebido pelas mãos de seu pai Nicolas Reck Bellon Pilz, nosso novo amor. Depois disso, minha vida nunca foi mais a mesma!! E eu só tenho a agradecer!

Expulsivo – Paula Pilz Fotografia
Recebendo seu novo Amor – Paula Pilz Fotografia
Imprinting – Paula Pilz Fotografia
Família – Paula Pilz Fotografia
A árvore da vida – Paula Pilz Fotografia
Amor – Paula Pilz Fotografia

Bem, enfim chegamos onde estou hoje, após todas essas vivencias, iniciei um novo ciclo, onde finalmente me sinto segura e preparada para acompanhar e orientar de forma profissional as gestantes que me procuram, hoje, faço parte de uma grande rede de apoio de muitas mulheres, sou sócia da empresa Nascer Amor, facilito cursos de famílias gestantes e formo novas doulas, além de muitos outros desafios que a vida nos propõe diariamente.

Ah não comentei mas aqui em Itajaí-SC tenho uma roda de conversa quinzenal, caso queira saber mais você pode me mandar um whats, que te passo todas as informações, fica aqui o num 47. 99161.1304.

Gratidão por me acompanharem nessa leitura, te vejo em breve.

  1. Responsabilidade Socialhttps://www.nasceramor.com.br/single-post/2018/03/06/Responsabilidade-Social
  2.  Audiência Pública sobre a HUmanização do Parto em Bluemnau – https://www.nasceramor.com.br/single-post/2018/03/21/Audi%C3%AAncia-P%C3%BAblica-sobre-Humaniza%C3%A7%C3%A3o-do-Parto-em-Blumenau
  3. Estudando o parto domiciliar – http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/estudando-parto-domiciliar.html
  4. Protocolo de preparo do colo uterino para indução do trabalho de parto –  https://www3.fmb.unesp.br/emv/pluginfile.php/15137/mod_resource/content/3/Daniela%20Aires%20Moreira%20%20corrigido-PRODU%C3%87%C3%83O%20T%C3%89CNICA%20MEPAREM%20-%20preparo%20de%20colo%20%281%29.pdf
  5. Prostaglandinas – https://www.gestacaobebe.com.br/prostaglandinas/
  6. Continuous emocional support during labor in US Hospital.  – Kennel JH, Klaus MH, Mcgrath S, Robertson S, Hinkley C. Continuous emocional support during labor in US Hospital. JAMA 1991 May; 265: 2197-201.
  7. Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de parto: experiência do Hospital Sofia Feldman. – Leão MRC, Bastos MAR. Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de parto: experiência do Hospital Sofia Feldman. Rev Latino-am Enfermagem 2001 maio; 9(3):90-4.
  8. Estudando sobre parto na água –  http://estudamelania.blogspot.com/2012/09/estudando-sobre-parto-na-agua.html
  9. Recomendações da OMS para o parto normal http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2014/09/voce-conhece-as-recomendacoes-da-oms-para-o-parto-normal
  10. Cartilha Quem espera, espera –  https://www.unicef.org/brazil/pt/quem_espera_espera.pdf

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2 respostas para “A jornada da Doula”

  1. Que texto mais lindo e que vivência maravilhosa .
    Eu só tenho a agradecer em poder ter feito parte de um grande processo desss trajetória .
    Com muito amor e orgulho
    Um beijo da dinda fotógrafa babona .

  2. Parabéns pela jornada, você é uma mulher e mãe incrível. Sucesso nessa caminhada, que venham muitos frutos!

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