Parir, gozar e amar

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Você acredita que parto é sinônimo de sofrimento? Se a resposta foi sim, então vem comigo e vamos tentar entender e desconstruir esse conceito,  visualizando a forte ligação entre a sexualidade e o parto.

Pare um momento para refletir sua relação com seu corpo. Você se sente confortável com ele? Se aceita, se abraça, se acaricia? Conhece bem suas parte íntimas, sabe a diferença entra a vulva e a vagina? Já as olhou no espelho? Quais partes do seu corpo lhe dão maior tesão ao seu próprio toque? Conhece a anatomia do Clitóris?

clitoris
Fonte: Wikipedia

Não é novidade os estudos que mostram uma porcentagem baixíssima de mulheres que gozam, uma porcentagem altíssima das que fingem orgasmos, ou ainda, que NUNCA vivenciaram um. Segundo esse estudo, mulheres relatam frases como meu namorado só chega e penetra. Sinto-me um objeto.” você já teve um orgasmo? E já ouviu falar de parto orgásmico?

Empodere duas mulheres

Transporte-se para um mundo onde a força de gerar, trazer um novo ser ao mundo e nutrí-lo, está bem longe de lhe conferir o titulo de “sexo frágil”. Se quiser visualizar isso ainda melhor, assista esse filme:

Eu não sou um homem fácil (Filme)
Je ne suis pas un homme facile [Clique para assistir]
O mundo em que vivemos é o oposto do que retrata o filme e embora estejamos caminhando a passinhos pequenos para equidade de gênero, o patriarcado e consequentemente o machismo imperam. Sendo assim, não tem como falarmos de prazer feminino e nem da possibilidade de um parto ser orgástico, sem falar sobre empoderamento e feminismo. Quando eu entendi, quando realmente “caiu a ficha” de que sou feminista, entre estudos e buscas, encontrei o movimento Empodere duas Mulheres, que me ajudou a entender a importância de passar esse conhecimento adiante e do potencial transformador que mulheres possuem quando estão unidas por uma mesma causa! Se sentir livre para amar e conhecer seu próprio corpo pode aumentar seus níveis de todo tipo de experienciação de prazer e te levar ao protagonismo do SEU parto!

Breve histórico dos nascimentos na humanidade

Nos primórdios, quando uma mulher sentia que estava para dar a luz, saía de onde habitava, ia até algum lugar que considerasse seguro e normalmente de cócoras, trazia sozinha seu filho ao mundo. O parto e a assistência ao parto passaram por diversas transformações no decorrer dos tempos. Passou da domiciliar à hospitalar, da assistência de parteiras da família ou comunidade à um evento médico, da não-medicalização à medicalização, do natural a um evento regrado. Na evolução (#sqn) dessa história, a parturiente passou de protagonista a objeto, que pouco ou nada decide a respeito de como o parto será conduzido. E a medicina baseada em evidências (MBE) elucida a cada dia, a importância do empoderamento e acolhimento para se possa com segurança voltar as origens.

Sexo vigiado

Se imagine agora nessa cena: um quarto com pouquíssima luz, essa luz indireta e aconchegante, aromas e óleos, cheiros e gostos, música ambiente, você e seu parceiro, desejo sexual, troca de beijos… Quando de repente alguém bruscamente abre a porta, “taca“ a mão no interruptor, acende uma luz branca, forte, direta, dá um olhada em vocês dois, diz que aquela posição tá errada, pega uma perna e muda de posição e sai. Vocês se entreolham, respiram fundo e recomeçam, logo, outra pessoa entra, acende a luz, dá uma analisada em vocês, diz que estão movimentando-se devagar demais e empurra suas costas demonstrando a velocidade certa. Já deu pra entender onde quero chegar, né?!  Os hormônios produzidos pelo corpo da mulher durante o sexo são os mesmos necessários para que aconteça o processo fisiológico do trabalho de parto. Sendo a ocitocina o principal hormônio para os dois casos. Segundo Ana Cristina Duarte Não dá para ter prazer no parto com medo, assim como não dá para ter prazer no sexo se estiver amedrontada. Para ter prazer sexual você precisa de intimidade. Só assim é possível desligar o neocórtex. Sob pressão, ninguém tem prazer”

Orgasmic Birth

O parto, é potencialmente transformador, do aspecto físico, emocional, social, mental e espiritual. A intensa ação hormonal que ocorre durante o mesmo, pode provocar euforia, alegria e leveza, fazendo com que o parto possa ser considerado um rito de passagem. Ina May Gaskin, parteira, tem uma famosa frase que diz:  “Se a mulher não se parece com uma deusa durante o parto, então alguém não a está tratando como deveria“.

Os mecanismos que captam a dor são os mesmos que recebem o prazer e os caminhos que levam ao cérebro, por meio das ligações nervosas, também são os mesmos, portanto, caso haja prazer durante o parto, os níveis de dor serão bem menores.

Dentre a discussão sobre parto orgásmico, fica uma que não se deve ignorar, saber que existem mulheres que já tiveram essa experiência, não deve te trazer como objetivo a idealização de um parto assim. Muitos dos relatos que discorrem sobre isso, dizem ter havido entrega total, e muitas mulheres não sabiam que poderiam viver isso antes de realmente acontecer.

Esse tema veio mais fortemente à tona em 2007 no lançamento do filme idealizado pela doula, Debra Pascali-Bonaro, Orgasmic Birth, sobre o qual ela relata, “O parto possibilita uma nova perspectiva de si mesma. As mulheres que têm um parto prazeroso sentem-se confiantes, conscientes de seus poderes. Temos que questionar o sistema que medicalizou o parto, pois muitas mulheres perdem a oportunidade, profundamente transformadora, que pode ser dar à luz”.

Nesse artigo, Ane Liz diz que “incorporar a sexualidade ao parto não significa necessariamente parir sem dor, ou parir de forma relaxada. Tampouco significa incutir a ideia de que o parto deve ser prazeroso. Longe disso. O parto, por si só, é uma experiência fisiológica muito desgastante, que exige do corpo o equivalente a correr uma maratona. Aliás, falar em sexualidade do parto num país onde uma em cada quatro mulheres que passaram por parto normal afirma ter sido vítima de violência obstétrica, aquela que é cometida contra a mulher no momento do nascimento dos filhos, pode parecer até ousadia ou elitismo, mas não é. Reconhecer a natureza sexual do parto é reconhecê-lo como ato íntimo e privativo da mulher, o que, a meu ver, é um dos primeiros passos para uma virada paradigmática na assistência obstétrica.“

Acredito muitíssimo no que diz Michel Odent, que para mudar o mundo é primeiro preciso mudar a forma de nascer, mas vou ainda mais longe, podemos ter uma mudança ainda mais potente através da pré concepção consciente e concepção com orgasmo e prazer. O autoconhecimento – físico, emocional e espiritual -, o empoderamento e a informação, lhe fará derrubar as barreiras do medo e sem medo você é livre e poderosa para atingir outras dimensões!

 

 

Fontes de referência:

 

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